30 setembro 2006


Olhe, eu não ia escrever sobre isso pois não sei mesmo me expressar. Mas resolvi que sim, vou falar sobre minha amiga que sofre de violência doméstica.

Porque nessa semana, depois de torturada por 40 dias pelo marido, depois de passar a noite em claro ouvindo merda e tomar banho e cerveja e apanhar, ela resolveu fazer o BO, não sem alguém ter que interferir. Exame de corpo delito. O marido o dia inteiro na frente do serviço assombrando a todos, ligando de meia em meia hora achando que ela se escondia no escritório, fazendo papel do palhaço que ele é. Deu viaturas de polícia e tudo o mais.
Eu nem vou falar dele, pois não vale a pena discorrer sobre o lixo que essa criatura é. Pois nem homem pode ser chamado. Isso acontece há tempos, essa violência. Ela já se separou, voltou. Ela não é uma coitadinha ignorante. Não.
Pois ela voltou novamente prá casa, junto com seu igualmente passivo filho de 18 anos.
Medo?
Se fosse medo ela não voltaria. A coisa está além da minha capacidade de compreensão e todas nós, suas amigas estamos revoltadas demais.

Mas bastou de desgaste a semana toda e eu preciso me impor limites pois não dá prá ficar sofrendo por alguém..
Nem me prejudicando por quem não tem respeito nem por si próprio.
Está confusa a coisa, veja, mas analisando tudo que vimos ao longo de quase 15 anos de amizade com ela, essa é a conclusão.
O submetido permite o abuso. O submetido não se acha digno de ser livre.
Mil motivos podem tentar justificar isso.Mas a liberdade está ali, sim.
O dragão dormiu várias vezes, mas a princesa tem medo de sair e levar suas virtudes e seus vestidos de seda embora. Vai que o cavaleiro aparece e encontra a caverna vazia, né?
....
Eu não quero falar com ela na segunda, quando ela volta da licença médica. Eu não quero, pois sei que sei que vou magoá-la além do que ela já está.
Então eu me fecho na minha conchinha de mal-humorada, impaciente, egoísta, chatinha e tals.

Não me julgue mal, se eu pareço cruel, ou fria. Ou se pode parecer que a culpa é dela apenas. Ou me julgue, enfim.
Mas é que já deu, viu?

A cada dia basta o seu mal – um dia eu ainda vou aprender o sentido desse versículo.

8 Comments:

Blogger Carla San said...

Lígia, minha linda, não se sinta mal. Eu costumo dizer que as pessoas só fazem conosco aquilo que permitimos q elas façam. Por isso, eu não tenho pena de ninguém q diz ter sido ofendido, ou maltratado por alguém das suas relações. Pq não se trata de algo inevitável como um assalto ou algo do tipo, afinal estas pessoas não te conhecem, não tem contato e não te devem qualquer consideração ou respeito. E como a sua amiga, existem milhares, q são altratadas todos os dias, mas a única providência q tomam é reclamar de quem as maltratou, qdo o fazem. Eu entendo a sua revolta, pois pra vc, como pra mim, esta é uma situação inadmissível, mas tem gente q está há tanto tempo preso na caverna, que tem medo de ver a luz do lado de fora. Fica bem, lindona.Bjs

8:37 PM  
Anonymous Anônimo said...

Que dureza, hein, amiga... Olha, postei um postinho lá, mas bem indeciso... Beijos!

8:44 PM  
Blogger Eddie said...

Obrigada, Ligia! Adoraria trocar figurinhas...inda sou nova no meio e não conheço muita gente...Quanto ao teu relato, vc nem de longe me parece cruel. Existe essa expressão: "As pessoas só te pisarão se vc se deitar"...a submissão fatalmente levará ao abuso. Um abraço, amiga blogueira...Ly

10:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olha Lígia, eu consigo compreender. Nunca sofri violência física mas existem outros tipos de violência, sabe. Essas prisões são poderosas, apesar de invisíveis para quem está de fora, na maioria das vezes. A ajuda que eu posso oferecer é a sala dos Co-dependentes Anônimos - ww.codabrasil.org. E claro, você tem todo o direito de não querer participar mais disso
Bjs

7:26 AM  
Blogger Gisa said...

Ligia querida, eu tentei várias vezes comentar sobre o post mas não consigo. Sei o que vc está passando pq tenho uma grande amiga que vive o mesmo drama. Vc não é cruel. Vc é inteligente, perceptiva e sensivel. A sua amiga não é vítima, é doente. Vc não é médica nem psicóloga. A sua amiga precisa de atendimento especializado. Só que tem que partir dela. Então, não se sinta culpada. Se conseguir fazer "ouvido de mercador" ótimo. Se não, afaste-se por mais que vc goste dela. Goste mais de vc! Beijos com amor

8:27 AM  
Anonymous Anônimo said...

Você é fofa também garota, humana e linda por dentro.
É difícil isso de mulheres que se sujeitam a homens que as agridem, é tudo tão contraditório, repugnante e revoltante! Se a gente não se mete sente-se omisso, mau amigo, etc, mas se a gente tenta "ajudar" e depois a pessoa volta a gente se revolta, não é fácil, não tem regra, as vezes não há o que fazer mesmo, isso é tipo parar de fumar, a pessoa tem que querer, tem que se superar, tem que ver que aquilo tah matando ela, só assim pra ela largar em definitivo, pior que tem gente que se acostuma e depois não consegue ver vida fora disso. Acostuma (ja ouviu a expressão "mulher de brigadiano"), deixa tornar rotina. Ai, vo parar de falar, porque, sinceramente, eu não teria tanta paciência com alguém que se deixa violentar dessa maneira. Falo com conhecimento de causa, ja me estressei muito, cansei, sinceramente! Abraço pra ti, você é uma fofa! Vou voltar.

8:35 AM  
Blogger Dalva M. Ferreira said...

Li,

Sem comentários... é difícil analisar isso, é difícil conviver com a loucura. Porque, para mim, a pessoa que apanha duas vezes e não se afasta do agressor, também é louca. Eu entendo mas não aceito! O mundo é tão grande...

8:54 PM  
Blogger Carlota e a Turmalina said...

Oi querida
Eu tb não compreendo...
Eu me amo demais para colocar em risco minha integridade física... Mas para algumas mulheres é mais fácil enfrentar o próximo do que a si mesma.Como amigas podemos somente oferecer o ombro amigo sem muito perguntar...
Beijo

12:42 AM  

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